domingo, 6 de setembro de 2009

Ode à Boa Vida

À maravilhosa luz eléctrica dos candeeiros da noite
Eu bebo e fumo.
Bebo, engolindo em goles, grandes goles, a beleza disto;
A Beleza disto, já desde os antigos totalmente conhecida.
Ó do bar, ó da discoteca, wooo-uuhh eterno!
Forte entusiasmo imprimido nos pensamentos em êxtase!
Em êxtase fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos relaxados fora,
Por minhas as pupilas fora de tudo! como eu me sinto!
Tenho os lábios secos, oh grandes consumos da noite,
De em vós participar demasiadamente,
E solta-se-me a cabeça de vos querer tomar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso momentâneo de vós, ó vícios!

E fumo olhando os passantes como que com uma percepção especial -
Grandes exemplos humanos de sede e moca tão soltos -
Canto, e canto na minha mente, e também bem alto para fora,
Porque a mente é só lá dentro mas às vezes também cá fora.
E há Baco e Dionísio dentro do copo de imperial e na ponta do filtro
Só porque viveram outrora e souberam viver Baco e Dionísio.
E pedaços do Fernando Pessoa do século talvez passado,
Átomos que hão-de ir fazer férias no cérebro de alguém de agora,
Andam por estes barris de cerveja à pressão,e por estes copos e por estes cinzeiros,
Pedido,escorrendo, servindo, batendo, saciando,
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.

Ah, poder exprimir-me como todo o bêbado se exprime!
Ser satisfeito como uma musica!
Poder ir na vida triunfante como uma bola de espelhos no tecto!
Poder, ao menos, penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me receptáculo
Para todas as bebidas alcoólicas e drogas para tomar
Nesta noite estupenda, mágica, natural e insaciável!

Promiscuidade em todas as dinâmicas!
Promiscua fúria de ser alguém contente
No dançar etéreo e cosmopolita
Nas discotecas a abarrotar,
Na dança libertadora-de-corpos das pistas,
No som ritmado e alto das colunas,
No tumulto indisciplinado das multidões,
E no quase-silêncio adormecido e cansado do regresso num taxi!

Horas matutinas, recomeçando iluminadas
Entre rotinas, hábitos e afazeres fúteis!
A Grande Noite estacionada no café,
No café – o lugar da última paragem
Onde se ponderam e se precipitam
Já bocejos e conversas inúteis.
Depois na cama, e nas voltas-voltadas do embalo de Montanha Russa
Vem João Pestana sem-alma dos lençois e almofadas!
Amanhã mais entusiasmos de proveito do Momento!

[Baseado na Ode Triunfal de Álvaro de Campos, obviamente.]


À falta de melhor, é isto que tenho para dizer.

1 comentário:

  1. ai rapariga, se tivesses tanta imaginação e paciência para as outras cosas!

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